Comecemos com uma verdade inconveniente, caro leitor: a cada dois anos, a indústria editorial decide que encontrou o “novo Harry Potter”. Já tentaram nos empurrar deuses gregos adolescentes, bússolas de ouro e escolas de vampiros. A maioria, convenhamos, naufragou no mar do esquecimento ou virou filme ruim na “Sessão da Tarde”.
Mas eis que surge Katherine Rundell com seu Criaturas Impossíveis (Impossible Creatures), recém-trazido ao Brasil pela Faro Editorial. A Disney não apenas gostou; ela sacou o talão de cheques e pagou uma quantia de sete dígitos pelos direitos de adaptação.
Sete dígitos. Isso compra muita glimourie (já chego lá).

A pergunta que não quer calar na minha cabeça, e sei que na sua também, fã cético de fantasia ,é: isso é real ou é apenas hype gourmetizado? Bom, eu li. E, como um velho hobbit ranzinza que já viu muito “Precioso” falso por aí, tenho algumas coisas a dizer.
O Veredito Rápido (Para quem tem pressa de viver)
Resumo da Ópera: Criaturas Impossíveis é, sim, a melhor fantasia middle-grade desde que J.K. Rowling largou a caneta. O livro brilha porque não tenta ser Harry Potter. Ele tem a densidade ecológica de Tolkien e a urgência de uma série da Netflix. É sobre um arquipélago secreto onde a magia é um recurso natural finito (e está acabando). A Disney já confirmou filmes para cinema, com a própria autora no roteiro. Leia antes que vire modinha.
Detalhe Informação Título Criaturas Impossíveis (Impossible Creatures) Autora Katherine Rundell (a britânica que escreve como se o mundo fosse acabar amanhã) Status da Adaptação Confirmadíssima pela Disney (cinema) Vibe Bússola de Ouro encontra Animais Fantásticos (só que bom) Nível de Magia Alta, mas científica. A magia aqui tem cheiro e gosto.
O Que a Disney Viu (Além do Lucro, Claro)
Vamos tirar o elefante, ou melhor, o grifo, da sala. A trama segue Christopher Forrester, um garoto que descobre que seu avô guarda a entrada para o Arquipélago. Até aí, clichê. O diferencial, meu caro leitor, está na construção de mundo.
Rundell não criou apenas uma escola. Ela criou um ecossistema. No Arquipélago, vivem todas as criaturas que, em teoria, existiram no nosso mundo até a magia desaparecer. Esfinges (que contam charadas letais e não aquelas piadinhas de O Hobbit), centauros, krakens e o meu favorito: o Ratatosk (um esquilo fofoqueiro da mitologia nórdica).
A “Glimourie” (a magia local) não é infinita. Ela é vital. E está morrendo.
A Disney, que não é boba nem nada, percebeu que a narrativa conversa perfeitamente com a geração atual: é uma aventura épica, sim, mas com um subtexto de preservação ambiental que faria até uma árvore do Fangorn chorar. É cool, é urgente e tem monstro gigante. A receita do sucesso.
O Grande Medo: A “Maldição do Sucessor”
Agora, cá entre nós: a comparação com Harry Potter é perigosa. É o beijo da morte.
Quando dizem que algo é “o novo HP”, a gente espera Hogwarts. Mas Criaturas Impossíveis é mais sujo, mais salgado, mais “pé na lama”. Lembra mais a melancolia de Philip Pullman (Fronteiras do Universo).
Se você for ler esperando escolher sua Casa ou comprar uma varinha, vai se frustrar. Aqui, a magia tem consequências físicas. O protagonista não é o “Eleito” clássico que solta raiozinho; ele é um menino que precisa entender como a natureza funciona antes que ela colapse.
E tem aquele meu receio de sempre: será que a Disney vai transformar essa prosa lírica e britânica (tão cheia de “não-me-toques”) em um filme genérico cheio de CGI e piadinhas a cada 5 minutos? A autora estar no roteiro me dá uma ponta de esperança, mas eu já fui ferido antes (te olho com desprezo, Percy Jackson de 2010).
Aliás, essa nossa obsessão em encontrar o ‘sucessor’ só existe porque o original deixou uma cratera na cultura pop que ninguém conseguiu preencher (nem a própria autora, convenhamos). Nós já revisitamos a saga do menino bruxo aqui no Recorte para dissecar o que exatamente fez aquilo funcionar — e o que envelheceu como leite fora da geladeira. Se você quer entender a régua alta que estamos usando para julgar essa novidade da Disney, relembre nossa análise profunda sobre o legado de Harry Potter aqui. É leitura obrigatória para calibrar a expectativa.”
Vale a Pena Ler Agora?
Minha opinião sincera, de quem adora criticar: Sim.
A escrita de Rundell é deliciosa. Ela tem aquele humor ácido britânico que a gente ama, descrevendo criaturas aterrorizantes com uma naturalidade que beira o desdém.
Leia pelo Grifo. Leia pela garota Mal, que voa com um casaco mágico e tem mais personalidade na unha do mindinho do que muita protagonista de saga Young Adult. E leia, principalmente, para poder dizer daqui a dois anos, quando o filme estrear e o cinema estiver lotado: “Ah, eu preferi o livro. No original era mais visceral.”
Afinal, não há prazer maior para nós, leitores, do que esse leve e saboroso esnobismo literário.
E você? Vai embarcar pro Arquipélago ou vai esperar sair no Disney+? Deixe seu comentário aí embaixo (eu leio todos, prometo não julgar… muito).
Assista o Review de Criaturas Impossíveis:


























