Desde sua estreia, Cobra Kai tem alimentado o debate entre os fãs mais fiéis da franquia Karatê Kid: quem é, afinal, o verdadeiro herdeiro do título de Novo Karate Kid em Cobra Kai? Entre os diversos jovens talentos introduzidos ao longo das temporadas, poucos dividem tantas opiniões quanto Robby Keene e Miguel Díaz. Embora Robby (vivido por Tanner Buchanan) tenha sido, por muitos momentos, apontado como o sucessor espiritual de Daniel LaRusso, a verdade é que Miguel (interpretado por Xolo Maridueña) é quem mais se encaixa no perfil original da franquia.
Com a temporada final se aproximando, é o momento ideal para revisitar essa discussão e entender por que, apesar dos méritos de Robby, Miguel é — sem dúvida — o único que personifica o espírito do Karate Kid clássico.
Miguel Díaz: Um Espelho Moderno de Daniel LaRusso

O arco narrativo de Miguel em Cobra Kai remete diretamente ao enredo vivido por Daniel LaRusso no filme original de 1984. Miguel é o garoto novo, deslocado e vítima de bullying, que encontra no karatê não apenas uma forma de se defender, mas uma filosofia de vida. A figura de Johnny Lawrence como seu mentor funciona como uma inversão interessante da história original, mas o desenvolvimento é, essencialmente, o mesmo: a transformação de um adolescente vulnerável em um lutador disciplinado e ético.
Mesmo quando Miguel se viu envolvido em caminhos sombrios, como sob a influência de John Kreese, o público torcia por sua redenção, assim como fazia com Daniel décadas atrás. Sua ligação emocional com o karatê é genuína, e seu papel como pilar emocional da série é inegável.
Robby Keene: Um Grande Personagem, Mas Não o “Karate Kid”
Robby Keene é um personagem complexo e cheio de nuances. Filho abandonado de Johnny Lawrence, ele inicia sua trajetória como rebelde, mas encontra uma espécie de redenção sob a tutela de Daniel LaRusso. Seu domínio técnico é impressionante e sua trajetória é marcada por altos e baixos emocionais que enriquecem a narrativa.
Entretanto, Robby foge do arquétipo clássico do Karate Kid. Ele não representa o “outsider” em busca de pertencimento, tampouco é movido por um senso de justiça ou integridade moral acima das competições. Pelo contrário, sua jornada é muitas vezes pautada por conflitos internos, orgulho ferido e escolhas impulsivas — o que o torna fascinante, mas não o herdeiro direto do legado de Daniel.
Além disso, enquanto o verdadeiro “Karate Kid” tradicionalmente se afasta da competição após encontrar paz interior, Robby segue motivado por rivalidades e pela adrenalina dos torneios, como o Saikai Taikai, o que o distancia ainda mais do espírito original da franquia.

A Fórmula Clássica do Karate Kid se Repetiu com Miguel
Em várias entrevistas e momentos da série, os criadores de Cobra Kai deixaram claro que, apesar de ser uma continuação da saga original, a série também tinha a missão de apresentar uma nova geração ao universo do karatê. Nesse contexto, Miguel representou a escolha natural.
Sua história tem todos os elementos da fórmula clássica: o jovem subestimado, o mestre improvável, o crescimento pessoal através da disciplina marcial e o impacto emocional que transcende a competição. Até mesmo sua relação conturbada com Johnny Lawrence serve como um espelho do relacionamento entre Daniel e o Sr. Miyagi — cheio de falhas, mas profundamente formativo.
A Conexão com Johnny Lawrence e Daniel LaRusso
Outro ponto que torna Miguel o verdadeiro “Karate Kid” da nova geração é sua conexão emocional com os dois principais mentores da franquia: Johnny e Daniel. Ele foi o primeiro aluno de Johnny, aquele que o fez repensar sua vida e deu propósito a seu retorno ao karatê. Ao mesmo tempo, teve momentos marcantes com Daniel, aprendendo lições fundamentais sobre equilíbrio e respeito.
Essas interações colocam Miguel no centro da narrativa, funcionando como ponte entre o passado e o presente, entre os valores de Miyagi-Do e a evolução de Cobra Kai sob nova liderança. Isso não acontece com Robby da mesma maneira — sua relação com Daniel, apesar de próxima, nunca se estabilizou como a de Miguel.
Os Outros “Karate Kids” de Cobra Kai

Embora Miguel e Robby sejam os nomes mais citados na discussão, não se pode esquecer que Cobra Kai expandiu significativamente o elenco jovem. Personagens como Sam LaRusso e Tory Nichols também tiveram seus próprios arcos dramáticos e conquistas nos tatames. No entanto, nenhum deles alcança a centralidade emocional e simbólica que Miguel representa para a série.
Sam, embora talentosa e determinada, é filha de Daniel e tem acesso privilegiado ao karatê desde sempre, o que diminui o impacto de sua trajetória como “underdog”. Tory, por outro lado, vive o papel da antagonista durante boa parte da série, e mesmo quando ganha nuances e empatia, não é posicionada como sucessora do legado central da franquia.
A Jornada Emocional e o Coração da Série
A força de Miguel não está apenas em sua técnica ou nos campeonatos que venceu. Ele é o personagem que mais representa o coração da série. Sua ética, empatia e capacidade de perdoar — mesmo após enfrentar dores profundas — mostram um amadurecimento digno dos melhores heróis do cinema.
Cada vez que Miguel se reergue após um desafio, o público sente que há esperança para todos ao seu redor. Ele é o personagem que inspira, que conecta os núcleos da trama e que representa o futuro do karatê como arte e filosofia de vida, não apenas como esporte.
Robby Continua Sendo Essencial
Nada disso diminui a importância de Robby. Ele é um dos personagens mais bem construídos de Cobra Kai, com um arco cheio de tensão, emoção e transformação. Sua rivalidade com Miguel, suas escolhas equivocadas, e sua eventual reconciliação com os pais e amigos adicionam profundidade e humanidade à narrativa.
Robby é essencial para o equilíbrio da história, e sua jornada ainda pode render momentos grandiosos na temporada final. Mas isso não o coloca como o herdeiro legítimo do título Karate Kid. Sua história é paralela, não sucessora.
O Veredito: Miguel é o Novo Karate Kid
No fim das contas, a série Cobra Kai pode ter apresentado vários candidatos ao posto de novo protagonista da franquia, mas Miguel é o único que cumpre todos os requisitos — narrativos, emocionais e simbólicos — para ser considerado o “Karate Kid” desta geração. Seu papel dentro da série vai além das lutas e dos troféus: ele representa os valores, as transformações e o espírito de superação que sempre definiram a essência dessa história.
Enquanto nos preparamos para nos despedir da série com sua última temporada, é cada vez mais claro que o legado de Miyagi continua vivo em Miguel Díaz. Ele não é apenas um discípulo de Johnny ou um campeão de torneios — ele é o verdadeiro sucessor de Daniel LaRusso no que realmente importa: caráter, evolução e coragem.