A Centopeia Humana e o Realismo Grotesco, de Bakhtin

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O terceiro filme analisado é “A Centopeia Humana”, um filme de 2009, dirigido por Tom Six, um controverso diretor, produtor e argumentista de filmes nascido nos Países Baixos.

Vamos a um rápido release sobre o filme para que eu possa tecer os meus comentários: Duas turistas de Nova Iorque estão a passeio na Alemanha e, ao receber um convite para uma festa, se perdem no caminho num carro locado e acaba estourando um pneu, impossibilitando a continuidade da viagem, visto que ambas não sabem trocar o step.

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Esse início do filme é a parte em que menos gosto, pois possui muitos clichês de outros thrillers… Duas garotas perdidas, inocentes, que acaba batendo na primeira porta encontrada em busca de ajuda. Bom, ao tomar essas ações elas se deparam com um renomado cirurgião, excêntrico e que “odeia seres humanos”.

Um “boa noite Cinderela” é o suficiente para abater ambas e uni-las a um oriental (outro turista) em seu porão cirúrgico. O plano perfeito é montar uma centopeia humana, unindo a boca de um ao ânus do outro e, quebrando os seus joelhos, o cirurgião impossibilitara os três de andar.

A história é bárbara e é preciso ter estômago para ver o filme. Tanto que ele é proibido em diversos países. Afora os clichês iniciais, o filme se desenvolve de uma forma totalmente alheia a essas tramas comuns, hollywoodianas já tão batidas no cinema mundial. Tudo o que acontece na trama desmente os clichês e se afirma como um filme único.

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A imagem acima apresenta o momento de êxtase do cirurgião: a coprofagia de sua centopeia humana acontece de forma perfeita, deixando claro que a sua invenção funcionara e que o processo, trocando em miúdos, ocorrera de forma satisfatória. Bom, como não costumo dar spoilers nos meus comentários, direi que desse momento para frente tudo é surpreendente no filme.

O que ainda vale ser dito é sobre o grotesco no filme, o que culminou em muitos comentários negativos da crítica para o diretor. De fato é experimental e escatológica a ideia do filme e provoca repulsa de muitos.Tal ideia remete à concepção Bakhtiniana e o seu realismo grotesco.

Observa Bakhtin que o traço marcante do realismo grotesco é o rebaixamento, isto é, a transferência ao plano material e corporal, o da Terra e do corpo na sua indissolúvel unidade, de tudo que é elevado, espiritual, ideal e abstrato. Para Bakhtin, no realismo grotesco, a degradação do sublime não tem um caráter formal ou relativo. Alto e baixo possuem exclusivamente um sentido topográfico.

Alto é o Céu. Baixo é a Terra, e a Terra é o princípio de absorção (o túmulo, o ventre) e, ao mesmo tempo, de nascimento e de ressurreição (o seio materno). Escreve ele: “Esse é o valor topográfico do alto e do baixo no seu aspecto cósmico”. Cósmico e corporal umbilicalmente vinculados: “O alto é representado pelo rosto (a cabeça) e o baixo pelos órgãos genitais, o ventre e o traseiro”.

O realismo grotesco é interpretado, de certa forma, no filme. Essa herança de uma cultura cômica popular trazem essas imagens e concepções estéticas da vida prática. Acredito que o longa é um tiro certo no horror, no puro horror do cinema mundial.

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