A incrível “Máquina Mundi”, do carioca Marcelo Mourão
Li, com atraso, é bem verdade, o livro “Máquina Mundi”, do autor carioca Marcelo Mourão. Atraso talvez nem tenha sido a palavra certa. Li no tempo certo. No tempo. Justamente o tempo é um dos assuntos propostos pelo autor.
Um belíssimo acervo de poemas necessários, com a sutileza dos poetas e o tema tão contemporâneo como nunca.
Mourão nos leva a um campo de reflexão importante: as engrenagens do mundo giram aleatoriamente, no lírico e no mundo “real”, que já perdeu muito de sua verossimilhança, visto que a internet, e o que provém dela, nos reduziu ao virtual, e isso gera falta, como o próprio autor ratifica em “Faltaflita” (p. 54):
Estou com saudades
nem sei bem do quê
Parte que se aparta
e a gente não vê.
Marcelo Mourão acerta em cheio com sua máquina, porque o autor dialoga, com propriedade, com gigantes como Luíz Vaz de Camões, Zygmunt Bauman, Drummond, e por aí vai…
O autor também provoca, em momentos como este:
Dizem que o aborto
é uma aberração,
um homicídio.
A masturbação, então,
seria um genocídio?
(Eis a questão, p. 36)
O principal assunto da “Máquina Mundi”, do Mourão, é a velocidade. É como esse tempo passa por nossos olhos e a gente nem percebe, ou empurra com a barriga, finge que nem viu. É como esquecemos das coisas importantes, é como tratamos com desdém quem ou o quê merece maior cuidado. A Máquina Mundi é necessária nos dias atuais para nos lembrarmos quem somos, lá no fundo, do coração, não do HD.
Sobre o autor:
É professor graduado em Letras (Língua portuguesa e Literatura) e pós-graduado em Literaturas de língua portuguesa. É também poeta, escritor, crítico literário e produtor cultural. Nasceu no bairro do Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro, e começou a fazer poesia em 1989.