A bruxaria na literatura brasileira (2): O tronco do ipê, de José de Alencar
Mariel Reis – marielreis.rj@gmail.com
1. O G.R.E.S. Estácio de Sá, em 1993, com o samba-enredo A dança da lua, consagrou na passarela do samba o tema do Sabá com seguintes versos: As bruxas negras casarão com Satanás/ Muita orgia e algo mais,/ Um verdadeiro sabá”. O homem comum tomou contato com um assunto inusual para o seu universo.
2. O pastor Cotton Mather, em 1692, no vilarejo da Nova Inglaterra, acusou supostos praticantes de feitiçaria naquilo chamado de julgamentos das bruxas de Salém. O resultado foi a condenação de dezenove pessoas à forca. O escritor norte-americano John Updike escreveu duas vezes sobre o episódio: As Bruxas de Eastwick (drama, 1984) e As viúvas de Eastwick (sátira, 2008).
3. Francisco de Goya pintou seis pequenas telas com o tema de bruxas para decoração do palácio de La Alameda em Madri. A encomenda foi feita pelos poderosos duques de Osuña em 1798. No cinema, A Bruxa, de Robert Eggers, aproveitou bastante a paleta de cores do pintor espanhol para a fotografia do filme.
4. O próprio demônio sempre presente em um sabá aparece em cena através do bode Black Phillip. A representação tem uma explicação alongada. Transcrevo um trecho:
“A palavra “Baphomet” em hebraico é como segue: Beth-Pe-Vav-Mem-Taf. Aplicando-se a cifra Atbash (método de codificação usado pelos Cabalistas judeus), obtém-se Shin-Vav-Pe-Yod-Aleph, que soletra-se Sophia, palavra grega para “sabedoria”.
Todavia ainda existem fontes que afirmam uma outra origem do termo. Segundo alguns, o nome veio da expressão grega Baph-Metra (mãe- Metra ou Metersubmersa; Baph- em sangue. Ou seja, a Mãe de sangue, ou a Mãe sinistra). Grande parte dos historiadores que afirmam essa versão se baseiam no fato que o culto à cabeça está relacionada com conjurações de entidades femininas.
Teorizou-se simbolicamente que o Baphomet é fálico, já que em uma de suas míticas representações há a presença literal do falo devidamente inserido em um vaso (símbolo claro da vulva) ”. (Fonte:https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Baphomet)
5. Em O tronco do ipê (1871), de José de Alencar, a figura de pai Benedito é central, “(…) o bruxo preto, que fizera pacto com o ‘Tinhoso’; e todas as noites convidava as almas da vizinhança para dançarem embaixo do ipê um ‘samba’ infernal que durava até o primeiro clarão da madrugada”.
6. A adaptação do sabá à realidade brasileira – o samba infernal até o primeiro clarão da madrugada – é acompanhada de outras informações a respeito do negro Benedito: desde a morada em um casebre sobre um penhasco distante da fazenda até as superstições provocadas na população a seu respeito:
“Desde então nenhuma catástrofe se deu por aquela redondeza, nenhum transtorno ocorreu, que não fosse lançado à conta da mandinga do negro. Se um roceiro caía do cavalo e quebrava a perna; se alguma dona de casa se queimava no tacho de melado ou no forno a fazer beiju; se dava a peste nas galinhas ou chocava o grão na espiga do milharal, não tinha que ver: era feitiço”.