Leitura nutre e faz crescer

Charlene França

Mercado editorial brasileiro na contramão da crise

Não é a primeira vez que pesquisas apontam crescimento no mercado editorial brasileiro e, ao menos até 2019, tudo continuava assim e seguia de vento em polpa, contrariando o mantra repetido há tempos: o brasileiro não lê. Se não lê, o fato é que compra bastante esse glamuroso e tão desejado objeto: o livro.

Novamente, recente pesquisa divulgada pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel) aponta para boas notícias. Um aumento de 48,5% na venda de livros no primeiro semestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020.  Foram 28 milhões de livros vendidos nos seis primeiros meses do ano e comprovado um aumento de 38,26% no faturamento do setor também em relação ao ano passado. 

Esses dados apontam que, após o fechamento de algumas importantes livrarias em 2020, o mercado editorial apresenta uma retomada ou reaquecimento em 2021, evidenciando que, o período de pandemia, péssimo para o comércio em geral, para livreiros se mostra um sorridente momento de expansão.

Podemos assim pensar que o momento de isolamento, que proporcionou às pessoas mais tempo em casa e a maior relação com atividades mais solitárias, reaproximou essas mesmas pessoas da leitura, que agora pode ser desfrutada e discutida e compartilhada com calma. Pode-se pensar ainda no caminho oposto: com o avanço da vacinação, os leitores estão voltando a frequentar as livrarias ( algumas inclusive sendo estão sendo reabertas, como a Livraria da Travessa, que chegou a Brasília ) e feiras, como a Bienal carioca, que acaba de retomar as suas atividades.

Leitura nutre e faz crescer

A crise de face tão assustadora e que acabou afastando boa parte da população de itens indispensáveis à sobrevivência, como alimentação e gás, dificultando o acesso a serviços básicos, não foi capaz de esfriar por muito tempo a procura pelo caminho ainda caro e elitizado da aproximação com o livro e com a literatura. Custa caro comer. Custa caro publicar e ter material distribuído em livrarias. Custa caro ler. Custa caro participar de eventos literários, como custa caro manter a família. Enganou-se quem afirmou que sonhar não custa nada. O bom é que faz crescer.

Que voltamos a crescer. a realidade nunca fez de forma tão contundente oposição ao sonho. Drummond, em seu poema Sentimental (Alguma Poesia – 1930), afirma que diante de uma sopa de macarrão, cujas letras incompletas não lhe permitiam formar o nome da pessoa que dominava seus pensamentos, estava sonhando. Assim reparou que “há em todas as consciências este cartaz amarelo:/Neste país é proibido sonhar.”

O bom é estar na contramão de tudo o que afoga a cultura e qualquer oportunidade de aquisição da arte. É bom que alguns tenham a oportunidade de ter o sonho entre os dedos apesar de tudo. É resiliência que fala? Acredito que sim.


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