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PAU-BRASIL RELOADED: O DIA EM QUE OSWALD DE ANDRADE ENCONTROU O ALGORITMO

Muito se fala da Antropofagia, mas poucos dão a devida importância para o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, o primeiro escrito por Oswald de Andrade. Lançado

Imagem gerada por ia baseada nas obras de Osward de Andrade

Muito se fala da Antropofagia, mas poucos dão a devida importância para o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, o primeiro escrito por Oswald de Andrade. Lançado em 1924, quatro anos antes do Manifesto Antropófago, o documento inaugura o ideário do escritor modernista. Nesse momento, uma base sólida é construída… Esse foi o início de um posicionamento cultural que mudou os rumos da arte brasileira e que se mantém atual, justificando as confluências, os empréstimos e as inter-relações que caracterizam todo tipo de comunicação e expressão artística — hoje, e sempre. Oswald de Andrade era do mundo. Entre Brasil e Europa, entre a cidade grande e o interior, entre a literatura e as artes plásticas, o poeta cosmopolita forjou uma nova literatura: brasileira e de exportação.

Por tudo isso e também porque, além de estudar literatura, acompanho com olhos atentos a relação entre as artes e a tecnologia digital, decidi revisitar a obra de Oswald de Andrade, aqui representada pelo caráter emblemático de seu manifesto de estreia, mas experimentando uma nova combinação: do autor modernista com uma IA generativa. O resultado é este texto, que entrelaça o manifesto oswaldiano com ilustrações criadas pelo Canva Design Art e AI Editor. Os trechos que estão em cinza indicam as partes que usei para formular os prompts a partir dos quais a IA gerou as ilustrações. Claro que, a cada comando, vários resultados foram gerados. Para cada caso, escolhi a imagem que julguei mais adequada para representar o estilo inusitado e a ideologia arrebatadora de Oswald de Andrade.

Imagem gerada por ia baseada nas obras de Osward de Andrade

FICHA TÉCNICA
Texto do manifesto: Oswald de Andrade
Imagens: Canva Design Art e AI Editor
Prompts e Seleção das imagens: Verônica Daniel Kobs
Edição das imagens e Letreiro do título: Verônica Daniel Kobs (com recursos do Word)

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O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.

Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza.

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O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.

A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.

Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram.

A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, crítica, donas de casa tratando de cozinha.

A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem.

o teatro de base e a luta no palco entre morais e imorais. A tese deve ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus Juris.

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Ágil o teatro, filho do saltimbanco. Ágil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a poesia.

A poesia Pau-Brasil, ágil e cândida. Como uma criança.

Uma sugestão de Blaise Cendrars:

Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino.

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Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das ideias.

Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.

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Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.

Uma única luta — a luta pelo caminho. Dividamos: poesia de importação.

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Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadro de carneiros que não fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho… Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado — o artista fotográfico.

Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A pleyela. E a ironia eslava compôs para a pleyela. Straviski.

A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.

Só não se inventou uma máquina de fazer versos — já havia o poeta parnasiano.

Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases: 1) a deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne e Mallarmé, Rodin e Debussy até agora. 2) o lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva.

O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral.

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Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos.

A síntese

O equilíbrio

O acabamento de carrosserie

A invenção

A surpresa

Uma nova perspectiva

Uma nova escala

Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil.O trabalho contra o detalhe naturalista — pela síntese; contra a morbidez romântica —

contra a cópia, pela invenção e pela surpresa.

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Uma nova perspectiva.

A nova, a de Paolo Ucello criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão de ótica. Os objetos distantes não diminuíam. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.

Uma nova escala:

A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O reclame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da viação, da aviação. Postes. Gasômetros Rails. Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte.

A reação contra o assunto invasor, diverso da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de ideias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloquente, um pavor sem sentido.

Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.

Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.

A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.

Ver com olhos livres.

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Temos a base dupla e presente — a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de “dorme nenê que o bicho vem pegá” e de equações.

Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.

Obuses de elevadores,

A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil.

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O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.

Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.

O estado de inocência substituindo o estado de graça que pode ser uma atitude do espírito.

O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.

A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.

Apenas brasileiros de nossa época.

Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.

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Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança.

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REFERÊNCIA

ANDRADE, O. de. Manifesto da poesia pau-brasil. Correio da manhã, 18 mar. 1924. 


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Texto publicado originalmente no Blog Interartes, em abril de 2025. 

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