Ler não é uma atividade solitária
Você se sente sozinho quando está lendo? Já teve a sensação de não estar interagindo com as pessoas por estar lendo? Você acha que o momento de leitura evita momentos sociais, assim como quando estamos presos aos nossos smartphones?
Recentemente, terminei de ler a distopia clássica “Admirável Mundo Novo” (1932), de Aldous Huxley, e na obra, atividades como a leitura e momentos “solitários” dedicados à arte são abominados. Tendo em mente a questão de que, naquele mundo distópico, o governo não queria que as pessoas tivessem individualidade, cheguei à resposta para todas as perguntas anteriores.
Ler um livro é como comtemplar uma pintura, uma obra de arte: você para na frente do quadro e, mesmo que esteja acompanhado, você analisa a imagem e interpreta sozinho. Tal interpretação alimentará o seu subjetivo de um modo, e o subjetivo de quem estiver com você, de outro. Ou seja, estando você sozinho ou não, cada contemplador será atingido individualmente por aquilo.
Dessa forma, querendo ou não, a leitura de um texto (lembrando que texto pode ser definido como livro, pintura, escultura, foto, quadro, etc) é indivídual, mas ainda assim, isso não a torna uma atividade solitária. Vale até ressaltar que nesses tempos de quarentena, estando sozinha em minha casa, a leitura me ajudou a sentir menos a solidão, ainda que estivesse somente eu e o livro ali.
“Os livros sempre foram assim, a gente tem a falsa sensação de que estamos sozinhos com eles, mas existe uma multidão que passeia silenciosamente pelas mesmas páginas, uma multidão espalhada pelos tempos, pelas casas, pelas janelas. Uma coisa é certa e real. Não existe solidão no momento em que se lê um livro.” Zack Magiezi.
E você, acha que a leitura é solitária ou individual? Acredita que a leitura te afasta das pessoas ou o contrário? Acha possível escapar da solidão com um livro nas mãos? Deixe um comentário!
É, Sara, o texto citado tem sua dose de verdade. E a coisa se completa assim, como escrevi comentando Manguel aqui mesmo na #RecorteLirico “para os que amam a leitura, o que se busca é aquilo que Sêneca chamava de “euthymia”, termo grego que significa “o bem-estar da alma” e que, segundo Manguel, era traduzido pelo filósofo como “tranquilitas” – aspiração daqueles que nutrem intimidade com a leitura, e que se obtém num “período secreto do dia comunal” e “num espaço privado para a leitura…”
A leitura exige uma certa “solitude”, que é estado para o que está só ou bem (ou mal) acompanhado.