Inferno e paraíso de ‘um erro emocional’

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Um erro emocional, de Cristovão Tezza, começa com a afirmação de um erro, descontrole que desencadeia um caminho pelo Inferno das lembranças, dos traumas, das derrotas, dos amores e das traições do personagem e autor Paulo Donetti. Do começo ao fim da história, o vinho servido por Beatriz aproxima o protagonista de sua verdade.

A linguagem reflete o processo do autoconhecimento, com negativas, retrocessos, fantasias e um avanço lento e progressivo, feito a partir da afirmação dos erros e da condição humana e falível: períodos longos, trechos que terminam em suspenso (fragmentados, algumas vezes continuados, após uma breve pausa —

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e, em outras, simplesmente interrompidos), marcados pela parcimônia da fala e pela profusão do pensamento (sendo que esse, muitas vezes, conta também a história não do que foi, mas do que seria, se a palavra imaginada tivesse sido dita, ou se o desejo tivesse deixado de ser apenas desejo).

Donetti encontra Beatriz, no início da história, e reencontra-a, ao final, em uma atmosfera que une amor, vida e morte. Beatriz, afinal, é única? Ela existe, ou é apenas a “Beatriz amarela”, saída das páginas escritas por Donetti, autor e amante? Beatriz vive, ou é um espectro, com a clara missão de ajudar seu amado a fazer a difícil travessia entre dois mundos?

O efeito da última página de Um erro emocional é aterrador. O final é um convite ao recomeço. O leitor quer mais e volta imediatamente ao começo da história, para refazer o caminho de Paulo Donetti, bucando pistas que possam ajudá-lo a desvendar o mistério do romance e da sombra de Beatriz, de Donetti (, de Tezza) e de Dante.

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A musa inspiradora imortal é agora quem guia Donetti até o Paraíso, mas, na passagem pelo Inferno de Tezza, o leitor redescobre o Inferno dantesco:  além de Beatriz, a musa gnóstica —

Cássio, o infiel —

Antônia, a Beatriz (ora filha dedicada, ora ex-esposa amantíssima) —

E, de certa forma, até Gemma di Manetto Donati (a outra com quem Dante/Donetti casou, apesar de amar Beatriz (ou Maria).

Afinal, depois do erro, o acerto. Beatriz, no destino de Paulo Donetti, representa o antes, o depois e é também o agora, que se transmuta em um futuro promissor, no Paraíso: “Beatriz imaginou, pressentindo a sombra; Donetti deu dois passos tímidos em sua direção e estendeu a mão para tocá-la.” (TEZZA, 2010, p. 191). Enfim, felizes para sempre… até que a vida os separe.

INFERNO E PARAÍSO DE UM ERRO EMOCIONAL

Referências:

TEZZA, C. Um erro emocional. Rio de Janeiro: Record, 2010, 191 p.

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