Retrocedendo: as mídias e a cultura vintage – Parte 2

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Dando continuidade à nossa série sobre as mídias e a cultura vintage, hoje vamos tratar do telefone: tipos, serviços e aparelhos associados a ele. Aliás, existe em nosso calendário o Dia do Telefone, comemorado em 10 de março! No Brasil, nas décadas de 1970 e 1980, o telefone analógico era o mais popular, mas precisávamos discar corretamente, pois, se a cada número o disco não fosse levado até o final, a ligação não era completada. A conta de telefone gerava pulsos e, dependendo do horário, a tarifa variava. Para economizar na conta, algumas pessoas, mais precavidas, costumavam usar pequenos cadeados, a fim de trancar o disco e impedir as ligações.

Na mesma época, já existiam os telefones com botões, em algumas empresas e nas residências de pessoas mais ricas. Esse modelo foi criado em 1960, mas só se tornou popular no Brasil na segunda metade de 1980, quando começou a substituir os telefones de disco (Figura 1).

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Retrocedendo: as mídias e a cultura vintage – Parte 2
Figura 1: Telefones de disco e com botões. Imagens disponíveis em: https://www.usadobrasil.com.br e https://br.pinterest.com/pin/30751209934104988/

LEIA O PRIMEIRO TEXTO DESSA SÉRIE: Retrocedendo: as mídias e a cultura vintage – Parte 1

Quando eu era pequena, minha avó sempre dizia para não usarmos TV, telefone ou espelhos durante tempestades. Um dia, desobedeci aos conselhos dela e, bem na hora de uma chuva intensa, fui usar o telefone. Senti um calor, enquanto discava os números, e vi uma faísca na ponta do meu dedo indicador. Naquele momento, dei razão para a minha avó e desliguei imediatamente! Outra coisa engraçada sobre a telefonia do passado era o problema das linhas cruzadas. Era frequente estarmos falando com alguém e começarmos a ouvir a conversa de outras duas pessoas. Então, tínhamos que falar com os “intrusos”, pois, para retomar a normalidade, todos precisavam desligar e tentar ligar novamente. E, mesmo fazendo isso, às vezes o problema continuava…

Na era dos telefones analógicos, quando saíamos de casa, era comum sempre levarmos fichas telefônicas na carteira, para o caso de alguma emergência… Para quem não conheceu as fichas, elas foram as antecessoras dos cartões telefônicos, os quais só surgiram nos anos 1990 e eram altamente colecionáveis. Meu marido guarda até hoje 3 ou 4 álbuns com centenas de cartões.

Voltando às nostálgicas fichas, que surgiram em 1980, cada uma delas garantia 3 minutos, em uma ligação local. Caso a pessoa não atendesse a ligação e nas ocasiões em que a conversa fosse mais rápida, não havia cobrança, a ficha era devolvida e podíamos retirá-la do telefone público, também chamado de orelhão. Inclusive, havia uma música da banda Blitz que se chamava “A última ficha”. Esse hit do passado menciona não apenas a ficha, mas o orelhão e a telefonista, além de trazer o toque tradicional do telefone de disco e uma gravação de secretária eletrônica. Para ouvir, acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=Q1Ls8Bfrtq8. Caso não tivéssemos uma ficha telefônica, também podíamos ligar a cobrar. Quem não se lembra da famosa musiquinha? Clique aqui (https://www.youtube.com/watch?v=NAj8sLbYQzY) para relembrar.  

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Tanto as fichas telefônicas quanto as chamadas a cobrar são indissociáveis dos orelhões, criados nos anos 1970. O nome popular devia-se ao fato do formato de uma orelha gigante, a fim de eliminar alguns ruídos externos e permitir que ouvíssemos melhor quem estava do outro lado da linha. As cores das cabines mudavam de acordo com a empresa telefônica responsável. Como os orelhões eram públicos, sofriam depredações constantes, como mostra este comercial da Telesp, veiculado em 1981 (https://www.youtube.com/watch?v=BgvRN3h66bI).  Infelizmente, hoje, esses telefones são extremamente raros nas grandes cidades, porque não correspondem mais a um serviço essencial.

Também nos anos 1980, foi inventado o identificador de chamadas, mais popularmente conhecido como BINA (significando que o telefone B Identificava o Número A). No entanto, naquele tempo, para ter acesso a esse serviço era preciso ter outro aparelho acoplado ao telefone. Por causa disso, o privilégio era restrito às pessoas mais abastadas, diferentemente de hoje, quando os números aparecem instantaneamente, na tela do smartphone, a cada chamada recebida.

Além disso, no passado, o telefone desempenhava várias funções que hoje são desempenhadas pela Internet. Bastava discar 139 e tínhamos acesso à programação de todos os cinemas da cidade. Outro recurso possibilitava que ditássemos o texto de um telegrama. Discando 135, podíamos usar o serviço do telegrama fonado (Fig. 2). Usei várias vezes esse recurso e a ocasião mais especial foi quando eu tinha um namorado (que hoje é meu marido) e, como ele morava em outra cidade, combinamos de nos corresponder por cartas. Mas ele morava no interior e os carteiros não entregavam em casa. Eram os moradores que tinham que buscar suas próprias cartas, nas agências dos Correios. Eu já tinha mandado umas cinco cartas, quando recebi uma carta do meu namorado, reclamando que ainda não tinha tido nenhuma notícia minha. Fiquei desesperada e não tive dúvida: peguei o telefone e ditei um telegrama.

Retrocedendo: as mídias e a cultura vintage – Parte 2
Figura 2: Texto de telegrama com anúncio de serviço do telegrama fonado. Imagem disponível em: https://www.filatelicafevereiro.com.br/1975-telegrama-com-publicidade-do-servico-de-telegrama-fonado-da-ect.html

No mesmo dia, o telegrama foi entregue e minha sogra até levou um susto, porque antigamente os telegramas eram sinal de morte ou outra notícia trágica. Apesar disso, deu tudo certo e no dia seguinte meu namorado foi ao correio, para resgatar uma pequena pilha de cartas que eu já tinha escrito para ele. Outra característica do telegrama era a síntese. O texto devia ter uma ou duas frases no máximo, podendo apresentar apenas palavras-chave. Comparando com as mídias de hoje, podemos relacioná-lo ao Twitter, que tem limite de caracteres.

Também associada ao telefone, nos idos de 1980 e 1990, a secretária eletrônica era bastante útil. Se alguém telefonasse e não estivéssemos em casa, não havia problema. Bastava deixar um recado. Além disso, a secretária também podia gravar as ligações. No entanto, o aparelho precisava de uma fita K7 para desempenhar esses serviços. Depois, era só dar o play para gravar ou para ouvir os recados do dia − podendo decidir entre retornar a ligação ou não. Evidentemente, hoje isso fica a cargo do correio de voz do smartphone. A grande diferença está na diversão, pois as pessoas escolhiam com carinho o que iam dizer na mensagem que gravavam na secretária eletrônica. Veja este convite criativo (https://www.youtube.com/watch?v=Ipz6E-jNNhs), gravado pela banda Pato Fu.

Com esse exemplo, finalizamos mais um episódio de nossa série. Para saber mais, não perca o próximo capítulo, dia 9 de março, aqui, na coluna “Há arte em toda parte”.

REFERÊNCIAS
CALULINHO. Banda Blitz. “A última ficha” (áudio). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Q1Ls8Bfrtq8>. Acesso em: 21 fev. 2023.
CANAL DO FALCON. Chamada a cobrar.  Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NAj8sLbYQzY>. Acesso em: 21 fev. 2023.
ECLÉTICO TV-PC. Morte do orelhão. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=BgvRN3h66bI>. Acesso em: 21 fev. 2023.
FERRIQUE. Pato Fu. Secretária eletrônica / Capitão Oreia. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ipz6E-jNNhs>. Acesso em: 21 fev. 2023.
IUNGO. Você sabe o que é BINA? Conheça como essa invenção mudou a telefonia fixa! Disponível em: <https://www.iungo.cloud/post/voce-sabe-o-que-e-bina-conheca-como-essa-invencao-mudou-a-telefonia-fixa/>. Acesso em: 21 fev. 2023.
VIVENDO BAURU. Quando acabou a ficha telefônica? Disponível em: <https://www.vivendobauru.com.br/quando-acabou-a-ficha-telefonica/>. Acesso em: 21 fev. 2023.

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